08 outubro 2012

o meu amigo poeta (XXVI)



Uma bela tarde, estava eu a fazer companhia ao meu amigo poeta no café, quando ele me perguntou:

“Amanhã queres ir jantar comigo e com a minha filha?”

Franzi o sobrolho.

“Tu tens uma filha?”

“Julgavas-me impotente?”

Fiquei estupefacto com aquilo. Positivamente atónito. Catatónico. Conhecia o gajo há mais de duas décadas e ele nunca antes mencionara sequer que tinha descendência. De modo que, quando recuperei a faculdade da fala, só consegui insistir:

“Tu tens uma filha?”

“Tenho”, respondeu ele, encolhendo os ombros, a olhar na minha direcção com uma expressão de indiferença. Agia como se não se tivesse passado nada. “Queres vir ou não?” perguntou ele a seguir.

Não consegui responder-lhe. Levantei-me e comecei a caminhar em direcção à saída. Ainda o ouvi aos berros, a perguntar o que é que tinha sido, se eu me estava a passar, se então eu me punha a andar dali assim, mas nem me voltei para trás. Estava fodido, voltei para casa.

À noite, o telefone tocou. Era o meu amigo poeta.

“Então? Conto contigo amanhã?”

Fiquei calado durante uns segundos. Acabei por aceitar o convite. O que era de estranhar era o facto de eu me ter surpreendido com a novidade. O meu amigo poeta não era muito de partilhar pormenores da sua vida sentimental.

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