Depois, o bar. Não era um sítio
péssimo, se tomarmos em consideração a atenuante de este episódio
ter decorrido nos anos 80. O que isso significa, para aqueles que
viveram esses tempos, é que o sítio também não valia muito a
pena. Claro que tudo o que a década teve de bom (muito pouca coisa,
na minha opinião) estava ali ausente. Se a palavra ABBA provocar
calafrios ao estimado leitor, especialmente quando associada a bolas
de espelhos, está do meu lado. Se não, pronto. Que se pode dizer?
Talvez o leitor tivesse gostado mais de ali ter estado do que eu.
Talvez sentisse o mesmo face à decoração e às farpelas
extravagantes que os comensais ostentavam um pouco por toda a parte.
Enfim, resumamos, para assim podermos parar de divagar: estávamos
perante o pós-modernismo na sua maior manifestação de força.
Assim que entrámos, Ramalho
apresentou-nos a sua amiga, que por sua vez nos apresentou as amigas.
As coisas começavam a compor-se. O meu amigo poeta, claro, nem ligou
às donzelas. Só tinha olhos para a Rita. Conversavam sem parar e
iam bebendo a bom ritmo, ao mesmo tempo que o Mendonça ia
conseguindo enrolar uma das raparigas que nos tinham apresentado.
Entretanto, chegou o namorado do Ramalho, que nunca tinha visto. A
descoberta não me espantou muito. A rapariga que sobrava meteu
conversa comigo, mas o arranjo não me entusiasmou muito. Não é que
fosse feia, mas não era fácil de aturar nem interessante. Apesar de
me parecer que ela estava disposta a vir-se embora dali comigo,
percebi imediatamente que isso me daria mais trabalho do que
proveito.
Aguentei uma hora,
hora e meia, e acabei, muito naturalmente, por ser o primeiro a sair.
Estava tudo mais ou menos na mesma, excepto os níveis de alcoolemia
dos meus companheiros, que subiam progressivamente. Achei que já não
ia perder grande coisa, despedi-me deles e fui embora dali. Pelo que
soube depois, no entanto, os acontecimentos da noite estavam apenas
no início.
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