01 maio 2014

o meu amigo poeta (XXXV)

Depois, o bar. Não era um sítio péssimo, se tomarmos em consideração a atenuante de este episódio ter decorrido nos anos 80. O que isso significa, para aqueles que viveram esses tempos, é que o sítio também não valia muito a pena. Claro que tudo o que a década teve de bom (muito pouca coisa, na minha opinião) estava ali ausente. Se a palavra ABBA provocar calafrios ao estimado leitor, especialmente quando associada a bolas de espelhos, está do meu lado. Se não, pronto. Que se pode dizer? Talvez o leitor tivesse gostado mais de ali ter estado do que eu. Talvez sentisse o mesmo face à decoração e às farpelas extravagantes que os comensais ostentavam um pouco por toda a parte. Enfim, resumamos, para assim podermos parar de divagar: estávamos perante o pós-modernismo na sua maior manifestação de força.

Assim que entrámos, Ramalho apresentou-nos a sua amiga, que por sua vez nos apresentou as amigas. As coisas começavam a compor-se. O meu amigo poeta, claro, nem ligou às donzelas. Só tinha olhos para a Rita. Conversavam sem parar e iam bebendo a bom ritmo, ao mesmo tempo que o Mendonça ia conseguindo enrolar uma das raparigas que nos tinham apresentado. Entretanto, chegou o namorado do Ramalho, que nunca tinha visto. A descoberta não me espantou muito. A rapariga que sobrava meteu conversa comigo, mas o arranjo não me entusiasmou muito. Não é que fosse feia, mas não era fácil de aturar nem interessante. Apesar de me parecer que ela estava disposta a vir-se embora dali comigo, percebi imediatamente que isso me daria mais trabalho do que proveito.


Aguentei uma hora, hora e meia, e acabei, muito naturalmente, por ser o primeiro a sair. Estava tudo mais ou menos na mesma, excepto os níveis de alcoolemia dos meus companheiros, que subiam progressivamente. Achei que já não ia perder grande coisa, despedi-me deles e fui embora dali. Pelo que soube depois, no entanto, os acontecimentos da noite estavam apenas no início.

Sem comentários:

Enviar um comentário