13 agosto 2012

o meu amigo poeta (III)


Desde essa tarde, desde esse primeiro dia do ano, não foi preciso muito tempo para perceber que eu e o poeta nos tornaríamos amigos.

Apesar de sermos muito diferentes, entendíamo-nos.

Essa afinidade tornou-se evidente desde a tarde passada em casa do Bertinho. Começámos a ver-nos com uma frequência cada vez maior e, à medida que a relação se estreitava, tornava-se visível que cada um de nós equilibrava o outro. O meu amigo poeta com a sua natureza excessiva, excêntrica, impulsiva, e eu, homem tranquilo, ponderado, estável. Ele com a sua coragem desesperada, eu com a minha tranquilidade dificilmente perturbável. As palavras que usávamos não eram as mesmas, o que nos entusiasmava não era o mesmo, os nossos prazeres, ódios e medos eram muito distintos, mas, ainda assim, compreendíamo-nos de tal forma que o primeiro instinto que cada um de nós despertava no outro era o de se ser tolerante. Havia uma facilidade na nossa convivência que compensava todas essas diferenças. E cada um de nós aceitava a natureza do outro vendo-as como uma dádiva e não um obstáculo.

Foi, por isso, com naturalidade, que se tornou hábito entre nós trocarmos confidências que não partilhávamos com outras pessoas. Nunca nos faltava assunto de conversa. Confiávamos um no outro como não confiávamos em mais ninguém. Tínhamos, por vezes, discussões violentas, mas nunca houve um diferendo que não pudéssemos ultrapassar. Além de tudo isto, posso ainda dizer convictamente que, da mesma forma que a minha vida não teria sido tão rica sem a companhia do meu amigo poeta, a vida dele teria sido bem mais dura sem a minha companhia.

Simplificando, pode-se dizer apenas que em muito pouco tempo já éramos grandes amigos. Essa amizade era absoluta e incondicional. E duraria décadas.

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